por Mayra Fonseca*
Cuidado, “que pressupõe atenção, bem-querer e ação”: um valor.
Atenção.
Dedicar atenção a cada um de nossos mínimos gestos não é, de alguma forma, acionar a nossa consciência?
Penso no cotidiano, nas miudezas da vida.
Atenção para o nosso corpo, para o do outro. Para o encontro de dois corpos.
Atenção para os nossos sentimentos, para os do outro. Para os encontros de sentimentos.
“Temos que nos perguntar se estamos atentos e conectados conosco”- ouvi recentemente, numa mesa de almoço entre amigos de trabalho. Almoço que era, importante destacar, um encontro entre pessoas que gostariam de se conhecer melhor, saber mais sobre projetos e vontades uns dos outros.
(E o que é conhecer alguém? Talvez seja dedicar atenção a esse alguém...)
A pessoa sentada à minha frente naquela mesa ainda não sabe que, ao introduzir essa pergunta, me ajudou também a ter mais sensibilidade (atenção) quanto às minhas próprias percepções.
(Talvez, por ser muito atenta, sim... talvez ela saiba).
Será que conseguimos ser atentos uns aos outros? E a nós mesmos? |
Essa é uma característica que, sem que eu soubesse, está presente em todos os projetos que atualmente admiro: a sincera e plena atenção dispensada em sua criação, planejamento e implementação. A consciência, nível de conhecimento e argumentos conceituais. O zelo, responsabilidade e seriedade para a organização de etapas, tarefas e papéis. A paixão e rigor na execução de cada uma das ações ou materiais. Consigo ver força, critério, consistência e inspiração em cada um desses projetos.
Isso vale, inclusive, para projetos sociais, cívicos, de engajamento. Há uma sincera atenção dispensada ao outro, nesses casos. Sem promessas impossíveis ou discursos inflamados, começo a perceber grupos se organizando em prol de causas coletivas, porque estão (ou porque querem estar mais) atentos ao seu redor.
Sim, também vejo essa característica nas pessoas que atualmente me inspiram e ensinam. Elas estão atentas e conectadas com seus sentimentos, corpos, propósitos. Uma atenção para si que reverbera nos ambientes nos quais estão; que contamina positivamente.
A partir de então, essa vem sendo a principal pergunta que me faço todos os dias: estou atenta e conectada comigo?
Ao fazer essa pergunta, a cada dia, descubro áreas em mim que preciso acionar, para ter mais cuidado comigo, com o outro, com o coletivo. Descubro uma dose de atenção que devo acrescentar no meu cotidiano.